sexta-feira, 22 de janeiro de 2016

Condenada (por Thaís Azenha)





Com a tal paz que só um copo me traz
Amanheço imersa em pensamentos insólitos
Conheço essa dança que minh'alma desfaz
Mereço esse cubo de desespero frio e sólido
Nada é, nem faz, eu mesma não sou tão capaz
Permaneço alheia a movimentos e conflitos
Desconheço soluções, rotinas e ais
Reconheço que a dor deveria fazer um rodízio
Estendo os lábios como quem suplica
Um pouco de amor no frio de Brasília
Condenso em chamas a alma fugitiva
Consolo de um beijo e já com a fé perdida
Que seja doce minha queda, branda minha vida
Uma dose de liberdade pra uma condenada contida.

domingo, 29 de novembro de 2015

Bento Gonçalves (Por Thais Azenha)





Pergunto eu o que ao mundo acontece
tantas compleições imersas em lamaçais
as minhas vistas, tão tolas, umedecem
e esnobo a discussão dos boçais

Sinto-me como um município de Mariana
ilhada com as feridas abertas pela ganância
a alma soterrada, contorcendo-se na lama
afundando-me com as casas e com resto de esperança.

Em minutos do mais tenro desespero
posso ainda sentir seu gosto de mercúrio
morro pela boca como os peixes amarelos
Entrego-me ao Rio Doce, pois fugir já é inútil.

Mesmo que como a Samarco você fique impune
Saiba que destruiu sua própria dignidade
Eu saio mais forte, ainda suja, mas imune
Ao meu lado tenho força da solidariedade.


sexta-feira, 6 de março de 2015

Mas hoje é sexta (por Thais Azenha)



Eu perdi o controle
Por causa de você
Eu perdi o controle
Devido às minhas urgências
Mas hoje é sexta e eu espero por mais
Vou aproveitar sua frieza pra trocar o lítio pelo copo de gim.

Eu perco o controle
Mas acho que nunca o tive
E tenho ainda menos quando você me liga ás 3 da manhã

Cansei de me descontrolar comedidamente
Resolvi usar as asas que você me deu.

sexta-feira, 27 de fevereiro de 2015

Meu tom de cinza (Thais Azenha)




Observo a urgência do tempo
E me identifico com o tom cinza do céu

Um vulcão em mim urge lento
Outrora era brisa, agora se faz fel

No rodapé de um ângulo difuso
Sinto minhas entranhas enguiçadas

Melódica, obsoleta e confusa
Esperando que esse tudo se torne nada




quinta-feira, 26 de fevereiro de 2015

A fênix (Thais Azenha)




O meu jamais,
O" nunca mais'
As farpas que você atirou
Mantém minha alma encarcerada

A minha paz,
Meu querer mais
Estar viva, ser quem sou
Já não me sinto tão cansada

Talvez as lágrimas
E minhas próprias asas
Me livram do abismo que a vida me jogou
Ironicamente ressucitada.

Sigo sozinha
Caminho de pedras cálidas
Uma fênix em mim despertou
Estou mais simples e renovada.

quinta-feira, 14 de agosto de 2014

O Pipoqueiro (Por Lua)



Se instalando lentamente
Foi, enfim, decretada
A loucura generalizada
Ou a normalidade proclamada

Os nascituros caóticos
Vislumbram um futuro vazio
Sentados em bancos frios de igreja
Ou ostentando lixo

Mas do útero dos excluídos
Nos restos mortais da noite
Personifica-se a inocência agonizante
Com cheiro de uma infância
Onde o caos social
Era apenas o futuro óbvio

fazendo-nos crer que o remédio é doce
E o tempo, inexorável
Descortina a realidade,
diluindo a lembrança
De uma ingênuidade  cadavérica
Em um gole
Da aguardente destoante

terça-feira, 29 de outubro de 2013

O rio da alma ( Por Thaís Azenha)




Mesmo sem a certeza do que pertence a mim
ou ao meu feitio,
Incansavelmente, dispenso a passividade.

Evito persistente a inconstância do fim,
sombrio,
Sorrateiramente desafio a saudade.

Certa de que tudo o que é marcado há de vir,
tal o rio,
Indubitavelmente, afogo a alma que luta por liberdade.