Assumo a loucura que me imputam. Todas elas.
O rótulo dos amigos com bons olhos, o da
família, o da sociedade, e o de toda a turma da psiquiatria.
Assumo a loucura, mas não a consciência da
loucura, pelo menos não a consciência plena que ultrapassa o
diagnóstico e se aprofunda na psiquê.
Assumo a loucura diagnosticada mas não a visão
de mim mesmo como tal. Talvez seja aí que se encontra a gravidade da
coisa, ou não.
Queria mesmo era alguma explicação. Tudo me
parece tão louco, tão do avesso em contraste com a minha exclusiva
sanidade, que me faz questionar se sou eu, ou o resto do mundo que
enlouqueceu. O pior de tudo é que o fato de passar pela minha cabeça
que pode ser eu a louca, já demonstra um mínimo de sanidade mental.
Ou não? O que me incomoda é a dúvida, a incerteza.
Assumo a loucura. Tudo bem! Mas ao assumir a
loucura, presumo instantaneamente que esse é um ato de uma pessoa
sã. É nesse ponto que minha cabeça começa a doer e me sinto como
a Dama do baralho, dividida em duas. Cabeça pra cima, cabeça pra
baixo, sem saber qual é a real e qual é a imagem refletida. Isso me
parece sintoma de loucura, mas como tive a consciência e a plena
capacidade de analisar minha própria loucura, me sinto sã.
Acho que é hora de parar. Tire suas próprias conclusões se quiser. Quanto a mim vou tentar ficar bêbada (só por hoje) para ter ao menos um momento de certeza nessa minha existência incerta. Bêbados são sempre bêbados e nada mais.
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