Estava eu, almoçando
e pensando: Escritor é o artista que expressa sua arte através da literatura.
Lógico! Tem coisa mais lógica? Tem, porque arte não precisa de lógica. Eu mesma
escrevo em uma lógica que é só minha. Minha lógica, lógico! Mas e os bulitas?
Alguém dá alguma moral para os bulitas? Consideram arte o que eles fazem?
Alguém sabe o que é um bulita? Bulita é o cara que escreve (leia-se, escritor)
bulas. Já imaginou a dificuldade que é escrever uma bula? Você já leu uma bula?
A bula inteira? Deve ser difícil pra caralho escrever uma bula, e ainda tem que caber aquele tanto de informações em um papel pequenininho, o cara tem que ser bom pra porra em resumir. E no fim das contas é a primeira coisa que eu jogo fora, antes mesmo de jogar a caixa fora, bem antes do remédio acabar... triste realidade a dos bulitas! Além de tudo, a profissão do cara ainda tem um nome ridículo.
E os escritores de
prefácio? Quase todo mundo pula o prefácio, que coisa cruel. Eu me orgulho de
dizer que sou uma leitora de prefácios, mas é uma profissão ingrata. Meus
amigos músicos que o digam, profissão que não é reconhecida como profissão é só
por amor mesmo. Até puta tem profissão, mas escritor não. -O que vc faz? -Escrevo.
– Meu filho de 6 anos também já escreve, o que é que vc faz pra viver? Algo
assim...
Seguindo essa linha
de raciocínio típica da Lua (essa quem vos fala/escreve) pensei em quanta volta
minha cabeça dá pra que eu consiga escrever alguma coisa. Não sei bem se você
se torna escritor porque sua cabeça dá voltas, ou sua cabeça começa a dar
voltas depois que você se torna escritor. Se bem que as voltas que minha cabeça
dá podem ter outras origens, mas gosto de cabeças que rodam, porém não das que
rolam. Principalmente se a cabeça rolante for a minha.
Hoje minha cabeça
quase rolou, ou talvez tenha rolado e eu ainda não saiba. O fato é que por
causa da minha cabeça rolante minha cabeça rodou e aí saiu um texto frio,
sarcástico e pessimista, digno do meu humor atual. Eu queria escrever isso:
Aquele
filho da puta que eu gostava tanto me sacaneou e não quero mais saber de amizade com ele.
Estou menstruada, com uma puta TPM, minha geladeira parou de funcionar e minha
casa está uma bagunça, cheia de roupa para lavar e passar e uma estante
quebrada que ainda não joguei fora.. Acordei cedo pra caralho pensando no que o
babaca fez e tropecei na garrafa de cerveja que eu tinha tomado na noite
anterior e batido a cinza do cigarro que fumei antes de dormir. A droga da
garrafa quebrou e tive que catar os cacos. Minhas férias acabaram e tenho que
voltar a trabalhar depois de um mês muito bom. Visto meu uniforme e sigo pelo engarrafamento monstro de
taguatinga. Meu emprego é tenso, vou ter que ficar lá a droga do dia inteiro, mas tenho meu dinheiro no fim do mês. Eu, com um puta sono, chego no
trabalho, engulo o choro e trabalho fazer o que, né?. Acordei de péssimo humor.
Mas
como tenho cabeça de escritor, rodopiante, o que saiu foi isso:
“Encontra-se morto aquele que era
imortal. O sangue verte incessantemente por dias a fio Enquanto o gelo derrete
molhando o chão de vidros estilhaçados e papéis enrolados. A roupa suja e
amassada se multiplica em torno de pedaços de madeira que já não servem pra
nada. Acordo no escuro procurando respostas para pergunta nenhuma e tudo que
encontro são restos de cerveja quente misturada com cinza de cigarro. O mel cristalizado
já não adoça mais a vida e me obriga a vestir a fantasia daquilo que nunca fui,
mas sou, ainda que apenas superficialmente. Visto-a, então, e sigo pela selva
da obstrução em direção à liberdade que me aprisiona diariamente e eu, meio que
inconsciente, sufoco meus dramas, piso na grama e viro engrenagem. Acordei de
péssimo humor”.
Entendeu ou não
entendeu como funciona a cabeça de um escritor?
muito bom!!! gosto muito desse jeito descompromissado sem pressão escreve o q dá na telha . muito bom!!!parabéns!!!
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