sexta-feira, 31 de maio de 2013

Metamorfose (Por Thaís Azenha)




Sempre gostei mais de cães. A alegria de graça que me faltou a vida inteira, sua dependência fazendo-me sentir importante de certa forma. Em tudo que escolhemos acredito que deixamos rastros de nossa personalidade. A rotina, minha inimiga cruel, destruiu coisas que hoje não sei mensurar o quanto valeram a pena, como um casamento fracassado ou um emprego bem pago insuportável. Lutei contra a seriedade com medo de crescer e endurecer. Mantive as mesmas cores no guarda roupa, algumas ideologias, alguns livros de cabeceira. Mas algo mudou aqui dentro. Nem suporto a mesma paisagem da cidade na janela do ônibus. Só a cerveja tem o mesmo sabor. Hoje escrevo ao lado da minha gata e da minha velha insônia, companheira inseparável. Independente, de poucos afagos. Não esconde sentimentos, nem morre de amores por mim. Esfaqueei a rotina sem poder. Pintei o cabelo. Pode parecer pouco para quem assiste de fora, mas nesse casulo ocorre um vulcão em erupção. Mudar de cidade é o próximo passo. O amor? Se mantém ou muda também.

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