segunda-feira, 28 de maio de 2012

A boemia de Taguatinga se findou! (Por Rubião)


A boemia de Taguatinga se findou!



A boemia de Taguatinga se findou. Dia desses, dei uma passeada pela noite de Taguá para constatar tal fenômeno. Era uma quarta-feira e, como bom candidato a boêmio, abri os trabalhos lá pelas oito da noite, em um quiosque denominado Passa-Tempo, na QNL. O lugar é muito bom, foi aberto há pouco e o diferencial, além do ótimo atendimento, da cerveja sempre gelada e de boas iguarias, é o som de bons ou, nem sempre bons, quando bastante arranhados, mas, no entanto, bem aceitos e até, às vezes, raros vinis. Uma variedade enorme de LP´s para que os próprios clientes possam escolher a vontade. Eu mesmo comandei uns três vinis naquela noite: Bill Harley no Brasil, tocando rock’n’roll misturado com samba, Chorinho no Céu, com ilustres tocadores de choro que já partiram pra outra, e um do Steve Wonder, disco com velhos hits do gênio. Bem, depois de muitas geladas, um sanduíche de filé com abacaxi e muito papo-furado, dou uma força no fechamento do estabelecimento, sem qualquer protesto, afinal, quiosque que se preze tem que fechar cedo mesmo. Quiosque é quiosque.



Aproveitando, então, a proximidade de um Bar chamado Tucanu´s, para lá eu fui. Já deixando claro, porém, que o nome não tem nada a ver com qualquer partido político. Ele já tem certa história na noite de Taguá. O bar, apesar da mudança de comando nos últimos tempos, sempre promoveu bons shows, com ótimas bandas da cidade e proximidades. Shows esses, porém, sempre voltados para o bom e velho rock’n’roll, o qual faz o estilo do bar, sem protesto algum de minha parte, além de ser, escrachadamente, reduto flamenguista, o que também não acarreta protestos meus.



Sou adepto do balcão do Tucanu´s, aliás, diga-se de passagem, o melhor balcão da cidade. Lá sempre rola uma boa música e boas risadas com os colegas de balcão e depois de outras cervejas e duas Porto Estrela... Neste momento, até rolou inspiração, quando improvisamos, eu e uma amiga também adepta à boa cachaça, uma parodia da música do Léo Jaime chamada Rock Estrela. O lance era Porto Estrela, apesar de que minha companheira a tomava com a companhia de sal e limão e eu dizia pra ela: “isso é pra se tomar com cachaça ruim, cachaça boa se toma pura mesmo”. Bem, passada a euforia, escuto novamente, atrás de mim, aquele velho e traumatizante estrondo da porta roliça se fechando e vem, à meia-noite e meia, aquela conhecida pergunta: para onde vamos?



Fui parar na praça do D.I, em um lugar que também abriu recentemente, o Café Havana. É um lugar pequeno, mas aconchegante. Lá rola som ao vivo, geralmente, voz e violão, e bons dvd’s. É uma espécie de livraria cultural, onde também acontecem encontros de poesia, os chamados saraus. No lugar você também encontra uma tabacaria e algumas outras bugigangas para o consumo. Neste dia, ou melhor, nesta noite, não estava muito cheio. Era aniversário de um amigo de uma amiga. Não sentei com eles. Tomei vinho com outras pessoas e trocamos idéias sobre música e poesia, com algumas boas piadas, o que é de praxe em uma mesa de bar. Dei carona para o músico da casa, porém, parei antes de seu destino, como já o havia avisado. Eu estava indo para o Belladona Café.



O Belladona fica na avenida comercial em Taguatinga. É um bar característico de fim-de-noite e, naquela hora, duas e trinta da matina, sabíamos que não haveria muitas opções na cidade para os amantes da noite. Porém, em bar fim-de-noite, tem-se uma vantagem, encontra-se todo mundo. Encontrei com aquela amiga que era amiga daquele aniversariante que estava lá no Havana. Desta vez, sentei com eles. O dono do estabelecimento ofereceu-nos uma iguaria deliciosa, era uma carne de ave com um molho agridoce. Muito bom, mas não lembro o nome do beliscante, nem sei se perguntamos o que era, mas sei que acabou rapidinho. Também rapidinho acabaram-se as cervejas de garrafa do estabelecimento e tive, não sei se a honra, mas a audácia de retirar a última cerveja em lata do frízer da casa. E, quando se acaba a cerveja, como diz uma amiga minha, acaba-se a alegria, acaba-se a amizade e etc. Mas, eu, minha amiga, o amigo aniversariante e sua companheira ainda estávamos dispostos a prosseguir com os trabalhos. Porém, naquela hora, quase quatro da madruga, com certeza não teria boteco algum aberto em Taguatinga, a não ser a loja de conveniência de um posto 24h. Isso mesmo, não um boteco com mesas, música e etc., mas uma lojinha de um posto de gasolina. O carro do aniversariante virou o encosto. A música vinha dos carros ao redor, com pessoas dos mais variados gostos, geralmente, os piores possíveis e o banheiro era improvisado por trás da banca de jornal. Nesse momento, tive certeza: a boemia de Taguatinga se findou.



Lembro-me do saudoso Batik Bar, que em seus bons tempos varava as madrugadas, ainda que, às vezes, de portas fechadas, mas com os clientes dentro. Quando se abria a porta, estranhava-se a claridade da praça e os freqüentadores saiam feito morcegos assustados pela luz do sol. Alguns mais prevenidos andavam com óculos escuros para essa ocasião. Já em fase decadente, o Batik era fechado mais cedo e, mesmo assim, restava-nos o antigo Roopaus, na chamada rua da alegria, em Taguatinga Centro. Lá se tinha onde sentar, em boa mesa de madeira, encontrava-se todos os heróis da madrugada e, ainda, podia-se comer felizes petiscos. Aquilo sim era boemia de primeira e a gente nem sabia.



Mas, voltando a posto 24h, bebemos mais algumas cervejas, comemos salgadinhos, discutimos relacionamentos e brindamos com a saideira. A expulsadeira foi comigo no carro, porém, não a bebi. Acho deprimente se beber no caminho de volta para casa. Ainda mais naquela hora, cinco da madrugada, tão cedo. Então, pensei, colocando a lata de cerveja na geladeira de casa: “a boemia de Taguatinga se findou!”

Taguatinga, maio de 2006.

Rubião

Um comentário:

  1. Atualizando o texto, temos que Tucanus fechou, Café havana não durou muito e Belladona ja fechou faz tempo. Assim, dos lugares citados, apenas o Passa-Tempo, ou melhor, o Quiosque da Lúcia continua firme e forte, apesar de não mais rolar os famosos vinis...
    Ah, outra curiosidade é que no lugar onde antes funcionava o citado Roopaus, hoje funciona o Blues Pub da Lázia...

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