A boemia de Taguatinga se findou!
A
boemia de Taguatinga se findou. Dia desses, dei uma passeada pela noite de
Taguá para constatar tal fenômeno. Era uma quarta-feira e, como bom candidato a
boêmio, abri os trabalhos lá pelas oito da noite, em um quiosque denominado
Passa-Tempo, na QNL. O lugar é muito bom, foi aberto há pouco e o diferencial,
além do ótimo atendimento, da cerveja sempre gelada e de boas iguarias, é o som
de bons ou, nem sempre bons, quando bastante arranhados, mas, no entanto, bem
aceitos e até, às vezes, raros vinis. Uma variedade enorme de LP´s para que os
próprios clientes possam escolher a vontade. Eu mesmo comandei uns três vinis
naquela noite: Bill Harley no Brasil, tocando rock’n’roll misturado com samba,
Chorinho no Céu, com ilustres tocadores de choro que já partiram pra outra, e
um do Steve Wonder, disco com velhos hits do gênio. Bem, depois de muitas
geladas, um sanduíche de filé com abacaxi e muito papo-furado, dou uma força no
fechamento do estabelecimento, sem qualquer protesto, afinal, quiosque que se
preze tem que fechar cedo mesmo. Quiosque é quiosque.
Aproveitando,
então, a proximidade de um Bar chamado Tucanu´s, para lá eu fui. Já deixando
claro, porém, que o nome não tem nada a ver com qualquer partido político. Ele
já tem certa história na noite de Taguá. O bar, apesar da mudança de comando
nos últimos tempos, sempre promoveu bons shows, com ótimas bandas da cidade e
proximidades. Shows esses, porém, sempre voltados para o bom e velho
rock’n’roll, o qual faz o estilo do bar, sem protesto algum de minha parte,
além de ser, escrachadamente, reduto flamenguista, o que também não acarreta
protestos meus.
Sou
adepto do balcão do Tucanu´s, aliás, diga-se de passagem, o melhor balcão da
cidade. Lá sempre rola uma boa música e boas risadas com os colegas de balcão e
depois de outras cervejas e duas Porto Estrela... Neste momento, até rolou
inspiração, quando improvisamos, eu e uma amiga também adepta à boa cachaça,
uma parodia da música do Léo Jaime chamada Rock Estrela. O lance era Porto
Estrela, apesar de que minha companheira a tomava com a companhia de sal e
limão e eu dizia pra ela: “isso é pra se tomar com cachaça ruim, cachaça boa se
toma pura mesmo”. Bem, passada a euforia, escuto novamente, atrás de mim,
aquele velho e traumatizante estrondo da porta roliça se fechando e vem, à
meia-noite e meia, aquela conhecida pergunta: para onde vamos?
Fui
parar na praça do D.I, em um lugar que também abriu recentemente, o Café
Havana. É um lugar pequeno, mas aconchegante. Lá rola som ao vivo, geralmente,
voz e violão, e bons dvd’s. É uma espécie de livraria cultural, onde também
acontecem encontros de poesia, os chamados saraus. No lugar você também
encontra uma tabacaria e algumas outras bugigangas
para o consumo. Neste dia, ou melhor, nesta noite, não estava muito cheio. Era
aniversário de um amigo de uma amiga. Não sentei com eles. Tomei vinho com
outras pessoas e trocamos idéias sobre música e poesia, com algumas boas
piadas, o que é de praxe em uma mesa de bar. Dei carona para o músico da casa,
porém, parei antes de seu destino, como já o havia avisado. Eu estava indo para
o Belladona Café.
O
Belladona fica na avenida comercial em Taguatinga. É um bar característico de
fim-de-noite e, naquela hora, duas e trinta da matina, sabíamos que não haveria
muitas opções na cidade para os amantes da noite. Porém, em bar fim-de-noite,
tem-se uma vantagem, encontra-se todo mundo. Encontrei com aquela amiga que era
amiga daquele aniversariante que estava lá no Havana. Desta vez, sentei com eles.
O dono do estabelecimento ofereceu-nos uma iguaria deliciosa, era uma carne de
ave com um molho agridoce. Muito bom, mas não lembro o nome do beliscante, nem
sei se perguntamos o que era, mas sei que acabou rapidinho. Também rapidinho
acabaram-se as cervejas de garrafa do estabelecimento e tive, não sei se a
honra, mas a audácia de retirar a última cerveja em lata do frízer da casa. E,
quando se acaba a cerveja, como diz uma amiga minha, acaba-se a alegria,
acaba-se a amizade e etc. Mas, eu, minha amiga, o amigo aniversariante e sua
companheira ainda estávamos dispostos a prosseguir com os trabalhos. Porém,
naquela hora, quase quatro da madruga, com certeza não teria boteco algum
aberto em Taguatinga, a não ser a loja de conveniência de um posto 24h. Isso
mesmo, não um boteco com mesas, música e etc., mas uma lojinha de um posto de
gasolina. O carro do aniversariante virou o encosto. A música vinha dos carros
ao redor, com pessoas dos mais variados gostos, geralmente, os piores possíveis
e o banheiro era improvisado por trás da banca de jornal. Nesse momento, tive
certeza: a boemia de Taguatinga se findou.
Lembro-me
do saudoso Batik Bar, que em seus bons tempos varava as madrugadas, ainda que,
às vezes, de portas fechadas, mas com os clientes dentro. Quando se abria a
porta, estranhava-se a claridade da praça e os freqüentadores saiam feito
morcegos assustados pela luz do sol. Alguns mais prevenidos andavam com óculos
escuros para essa ocasião. Já em fase decadente, o Batik era fechado mais cedo
e, mesmo assim, restava-nos o antigo Roopaus, na chamada rua da alegria, em Taguatinga Centro. Lá
se tinha onde sentar, em boa mesa de madeira, encontrava-se todos os heróis da
madrugada e, ainda, podia-se comer felizes petiscos. Aquilo sim era boemia de
primeira e a gente nem sabia.
Mas,
voltando a posto 24h, bebemos mais algumas cervejas, comemos salgadinhos,
discutimos relacionamentos e brindamos com a saideira. A expulsadeira foi
comigo no carro, porém, não a bebi. Acho deprimente se beber no caminho de
volta para casa. Ainda mais naquela hora, cinco da madrugada, tão cedo. Então,
pensei, colocando a lata de cerveja na geladeira de casa: “a boemia de
Taguatinga se findou!”
Taguatinga,
maio de 2006.
Rubião
Atualizando o texto, temos que Tucanus fechou, Café havana não durou muito e Belladona ja fechou faz tempo. Assim, dos lugares citados, apenas o Passa-Tempo, ou melhor, o Quiosque da Lúcia continua firme e forte, apesar de não mais rolar os famosos vinis...
ResponderExcluirAh, outra curiosidade é que no lugar onde antes funcionava o citado Roopaus, hoje funciona o Blues Pub da Lázia...