quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

Balzaquianamente falando - Terráqueos (por Lua)

O foda dos terráqueos é que tudo é muito simplista, concreto. Balzaquianamente falando, esses sentimentos humanos, a ambição, a mesquinharia, a corrupção dos desejos, inveja, ciúme, desconfiança, a não aceitação dos erros, dos defeitos..tudo isso destrói as ilusoes. A concepção do homem, da sociedade, da arte, todos as altas ideologias..tudo se resume a meras ilusões. A confiança que se deposita, os amores nos quais acreditamos, a cerveja que em pouco tempo esquenta no copo... a brevidade dos sentimentos, sabores insípidos... A preocupação com a aceitação social é muito maior do que a preocupação com a aceitação de nós mesmos, dos nossos defeitos e, principalmente das nossas necessidades, dos nossos desejos.


Balzac foi muito sábio ao criar seus personagens. O Terráqueo se leva ao sofrimento, se aprisiona, se destrói e destrói o que está em volta. Não gosto do tipo resignado que, para alcançar a felicidade pessoal, prefere viver retirado mas que acaba sendo engolido pelos acontecimentos, como Lukács. Não gosto do narcisista, que pelo triunfo e o fracasso mundanos, perde seus ideiais. Não gosto do anônimo e impecável trabalhador que finge que luta por um mundo melhor, quando é apenas mais uma peça na engrenagem de um sistema podre. Não gosto do esnobe, não gosto do simplório, do vaidoso, não gosto dos imorais, não gosto dos moralistas, dos conformodados, dos inconformistas.... Do incapaz que se cobre, do rico que se enfeita, do presunçoso que se disfarça, do elegante que se veste.

Meu coração, diferente do coração dos terráqueos, é um abismo no fundo do qual se se encontra o amor e o perdão. Vivo hoje nesse abismo, nem na Terra, nem em Alpha. Estou no abismo junto com o amor. E é nas profundezas abissais que vou me recompor e me desiludir, porque a ilusão é apenas a fé desmedida e eu não tenho fé.

Sentir, amar, sofrer, devotar-se, será sempre o texto da vida das mulheres. Foi Balzac quem disse, mas eu não sou uma mulher qualquer, sou Alphiana e posso deixar o sentir, o amar, o sofrer, o devotar-se...lá no fundo desse mesmo abismo em quem me encontro agora, mas do qual eu sairei, ilesa. Porque aprendi que no homem existem diferentes nuances, da maciez de uma esponja molhada até a dureza da pedra-pomes, e quem controla essas nuances é o orgulho, que os leva a ocultar os seus combates e apenas a mostrarem-se vitoriosos.  Eles só esquecem que os fracassos continuarão existindo, mesmo que ninguém os veja, mesmo que ninguém os saiba.

As mulheres vêem tudo ou não vêem nada, segundo as disposições da sua alma: a única luz delas é o amor e por isso sofrem, e é lindo esse sofrimento, porque nos mostra estarmos vivas e termos um coração..até que um dia acontece alguma coisa e você joga seu coração no mesmo abismo que eu joguei o meu. Fica sem luz, fica sem alma, fica sem lágrimas, mas sobrevive, porque a dor é como uma dessas varetas de ferro que os escultores enfiam no meio do barro, ela sustém, é uma força! Nas grandes crises o coração parte-se ou endurece.








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