quarta-feira, 4 de julho de 2012

A bebida e eu (Por Rubião)



Minha relação com a bebida iniciou-se tarde para os padrões de hoje em dia. Eu estava com 20 anos de idade quando tomei meu primeiro porre na ocasião de uma saída com os amigos de faculdade. Portanto, estando eu nos 41, já se vão mais de 20 anos de intensa relação com essa minha amiguinha. Tantos porres, tantas risadas, alguns tombos e tantas ressacas.
A cerveja veio primeiro e com seu baixo teor alcoólico foi me cativando. A coisa é assim: você chega numa mesa de bar com dois ou três amigos e no início é aquele silêncio, mas depois de alguns copos começa o auê... E haja assunto, e haja piadas, e haja besteiras, e haja risadas. Claro que com isso também vêm as várias idas ao banheiro, ocasião em que aqueles amigos que ficam aproveitam para fofocar sobre aquele que acabou de se levantar e assim por diante. Tudo muito simples assim, mas como é gostosa essa simplicidade. Quem bebe sabe!
Depois da cerveja vieram as bebidas destiladas: rum, conhaque, vodca, uísque e cachaça. Tive uma relação meio tumultuada com a Cuba-Libre, como não poderia deixar de ser e, assim, logo rompemos devido a um sonho que tive. Sonhei com uma garrafa de Montila, sendo que dentro dela eu enxergava vários escorpiões. Não entendo nada de interpretação de sonhos, mas, de todo modo, aboli esse tipo de bebida para evitar complicações.
O conhaque também me maltratou muito. Eu o misturava com limão para descer melhor. Havia até uma técnica em que retia o sumo do limão embaixo da língua e o ingeria juntamente com a bebida. Desse modo descia macio e reanimava. Perdi algumas apresentações de algumas bandas em que tocava devido a esse tipo de uso. Além do mais, esse matreiro também possui uma outra astúcia. Sua mistura com qualquer tipo de café também pode se tornar uma bebida saborosa. Isso para mim foi o fim da picada, sendo que já sou viciado em café e, ao mesmo tempo, não posso exagerar na dose, pois tenho enxaqueca. Assim, frente a tamanhos riscos oferecidos por essa bebida, também a dispensei de meu cardápio. Confesso, fui covarde!
Já a vodca, para mim, se trata de uma bebida sem princípios. Aceita qualquer coisa que com ela se misture. Eu mesmo já cansei de misturá-la com sorvete e a danada desceu bem. Ela só não aceita uma coisa: o congelamento. Você pode colocá-la no frízer mais potente que você conheça e a bira não congela, apenas fica cremosa. Uma delícia! Com essa, confesso que ainda, de vez em quando, rolam flertes entre nós. Porém, sem mais a caliência intensa dos primeiros encontros.
O uísque é brother. Os importados, de 12 anos pra cima sempre foram bem recebidos. Mas ainda assim eles não aliviaram para mim. Teve evento em que eu, prudentemente, dormi no estacionamento de uma embaixada por conta desse drinque. Não fui mal tratado pelo agente de polícia que me acordou às 8 da manhã, pois me apresentava de terno e gravata na ocasião. Não é à toa que essa bebida tem as suas exigências. Sendo assim, quem sou eu para discordar de Vinícius quando ele afirmou que “uísque é o melhor amigo do homem, uísque é o cachorro engarrafado”. No entanto, tenho por mim que o Poetinha disse essa frase não pensando nas exigências do uísque, mas sim pensando em seus efeitos quanto ao desempenho sexual do cidadão que o ingere. Sem mais detalhes!
A cachaça. Bem, a cachaça tem algo de especial. Talvez a sua brasilidade, não sei bem ao certo, mas seja da branca ou da escurinha, elas descem bem para mim. Com a branca que se sabe realmente a qualidade da cana. Quando então dela se faz a tal caipirinha, aí sim que a mesma fica assim irresistível. Já a escurinha, sempre anda bem maquiada com o envelhecimento em algum tipo de madeira nobre. Sou adepto daquelas envelhecidas no carvalho, que, apesar de ser madeira importada, imprime na cana um sabor adocicado e um perfume característico muito agradável. Portanto, com todas essas atrações, a sacana já fez com que esse pretendente percorresse quatro feiras da cachaça em Brasília e, encerrados tais eventos na capital, mais três feiras da danada em Beagá. As chamadas Expocachaça, feiras essas que ocorrem todo ano no início de junho. Em tais ocasiões, as doses de cana se oferecem para o cidadão sem nada pedir em troca. A pressão é muito forte!...Hoje em dia, tenho evitado tamanha esbórnia. A idade vai chegando e vocês sabem como é!
Tenho por mim que, com essa estrada, já cheguei a uma certa maturidade alcoólica. E com várias batidas de cabeça no topo das ressacas e algumas, no topo das aminésias, hoje procuro manter vôos mais rasos e tranqüilos. Aprecio um bom vinho ou um bom chope e assim, driblando os conservantes, tento me aproximar da tão recomendada moderação. Porém, continuo fã da bebida e admiro quando vejo um casal de velhinhos com seus cabelos grisalhos tomando, ainda pela manhã, a sua caneca de chope, ou o senhor, já acima dos 80, que ainda toma o seu copo de cana, recordando-se do gingado de sua amada, no estilo da canção Blues é Assim de Paulinho Moska.
Desse modo, para manutenção de nossa relação, minha e da bebida, hoje tenho dado uma de difícil para ela e tento apreciar sua companhia apenas em ocasiões especiais. Não seria nada legal estar, por exemplo, em uma beira-mar e não poder se dar o desfrute de admirar o visual saboreando a sua companhia. Assim, tenho evitado vários encontros com a danada, tentando assim preservar a nossa relação. E, prova disso, é a ocasião da confecção deste texto que você acaba de ler. Pois saibam que, durante tal empreitada, não tomei se quer um gole de qualquer tipo de bebida. E isso merece uma comemoração. Vamos tomar uma aonde?
Brasília, 02 de julho de 2012.





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