Minha
relação com a bebida iniciou-se tarde para os padrões de hoje em dia. Eu estava com 20 anos
de idade quando tomei meu primeiro porre na ocasião de uma saída com os amigos
de faculdade. Portanto, estando eu nos 41, já se vão mais de 20 anos de intensa
relação com essa minha amiguinha. Tantos porres, tantas risadas, alguns tombos
e tantas ressacas.
A
cerveja veio primeiro e com seu baixo teor alcoólico foi me cativando. A coisa
é assim: você chega numa mesa de bar com dois ou três amigos e no início é aquele
silêncio, mas depois de alguns copos começa o auê... E haja assunto, e haja
piadas, e haja besteiras, e haja risadas. Claro que com isso também vêm as
várias idas ao banheiro, ocasião em que aqueles amigos que ficam aproveitam
para fofocar sobre aquele que acabou de se levantar e assim por diante. Tudo
muito simples assim, mas como é gostosa essa simplicidade. Quem bebe sabe!
Depois
da cerveja vieram as bebidas destiladas: rum, conhaque, vodca, uísque e cachaça.
Tive uma relação meio tumultuada com a Cuba-Libre, como não poderia deixar de
ser e, assim, logo rompemos devido a um sonho que tive. Sonhei com uma garrafa
de Montila, sendo que dentro dela eu enxergava vários escorpiões. Não entendo
nada de interpretação de sonhos, mas, de todo modo, aboli esse tipo de bebida
para evitar complicações.
O
conhaque também me maltratou muito. Eu o misturava com limão para descer
melhor. Havia até uma técnica em que retia o sumo do limão embaixo da língua e
o ingeria juntamente com a bebida. Desse modo descia macio e reanimava. Perdi
algumas apresentações de algumas bandas em que tocava devido a esse tipo de
uso. Além do mais, esse matreiro também possui uma outra astúcia. Sua mistura
com qualquer tipo de café também pode se tornar uma bebida saborosa. Isso para
mim foi o fim da picada, sendo que já sou viciado em café e, ao mesmo tempo,
não posso exagerar na dose, pois tenho enxaqueca. Assim, frente a tamanhos
riscos oferecidos por essa bebida, também a dispensei de meu cardápio.
Confesso, fui covarde!
Já
a vodca, para mim, se trata de uma bebida sem princípios. Aceita qualquer coisa
que com ela se misture. Eu mesmo já cansei de misturá-la com sorvete e a danada
desceu bem. Ela só não aceita uma coisa: o congelamento. Você pode colocá-la no
frízer mais potente que você conheça e a bira não congela, apenas fica cremosa.
Uma delícia! Com essa, confesso que ainda, de vez em quando, rolam flertes
entre nós. Porém, sem mais a caliência intensa dos primeiros encontros.
O
uísque é brother. Os importados, de 12 anos pra cima sempre foram bem
recebidos. Mas ainda assim eles não aliviaram para mim. Teve evento em que eu,
prudentemente, dormi no estacionamento de uma embaixada por conta desse
drinque. Não fui mal tratado pelo agente de polícia que me acordou às 8 da
manhã, pois me apresentava de terno e gravata na ocasião. Não é à toa que essa
bebida tem as suas exigências. Sendo assim, quem sou eu para discordar de Vinícius
quando ele afirmou que “uísque é o melhor amigo do homem, uísque é o cachorro
engarrafado”. No entanto, tenho por mim que o Poetinha disse essa frase não
pensando nas exigências do uísque, mas sim pensando em seus efeitos quanto ao
desempenho sexual do cidadão que o ingere. Sem mais detalhes!
A
cachaça. Bem, a cachaça tem algo de especial. Talvez a sua brasilidade, não sei
bem ao certo, mas seja da branca ou da escurinha, elas descem bem para mim. Com
a branca que se sabe realmente a qualidade da cana. Quando então dela se faz a
tal caipirinha, aí sim que a mesma fica assim irresistível. Já a escurinha,
sempre anda bem maquiada com o envelhecimento em algum tipo de madeira nobre.
Sou adepto daquelas envelhecidas no carvalho, que, apesar de ser madeira
importada, imprime na cana um sabor adocicado e um perfume característico muito
agradável. Portanto, com todas essas atrações, a sacana já fez com que esse
pretendente percorresse quatro feiras da cachaça em Brasília e, encerrados tais
eventos na capital, mais três feiras da danada em Beagá. As chamadas
Expocachaça, feiras essas que ocorrem todo ano no início de junho. Em tais
ocasiões, as doses de cana se oferecem para o cidadão sem nada pedir em troca. A pressão é muito
forte!...Hoje em dia, tenho evitado tamanha esbórnia. A idade vai chegando e
vocês sabem como é!
Tenho
por mim que, com essa estrada, já cheguei a uma certa maturidade alcoólica. E
com várias batidas de cabeça no topo das ressacas e algumas, no topo das
aminésias, hoje procuro manter vôos mais rasos e tranqüilos. Aprecio um bom
vinho ou um bom chope e assim, driblando os conservantes, tento me aproximar da
tão recomendada moderação. Porém, continuo fã da bebida e admiro quando vejo um
casal de velhinhos com seus cabelos grisalhos tomando, ainda pela manhã, a sua
caneca de chope, ou o senhor, já acima dos 80, que ainda toma o seu copo de cana,
recordando-se do gingado de sua amada, no estilo da canção Blues é Assim de Paulinho
Moska.
Desse
modo, para manutenção de nossa relação, minha e da bebida, hoje tenho dado uma
de difícil para ela e tento apreciar sua companhia apenas em ocasiões
especiais. Não seria nada legal estar, por exemplo, em uma beira-mar e não
poder se dar o desfrute de admirar o visual saboreando a sua companhia. Assim,
tenho evitado vários encontros com a danada, tentando assim preservar a nossa
relação. E, prova disso, é a ocasião da confecção deste texto que você acaba de
ler. Pois saibam que, durante tal empreitada, não tomei se quer um gole de
qualquer tipo de bebida. E isso merece uma comemoração. Vamos tomar uma aonde?
Brasília,
02 de julho de 2012.
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