segunda-feira, 4 de junho de 2012

Construindo uma música - Primeira parte - (Por Rubião)


Verão de 2004, na verdade, final de novembro daquele ano. Fiz uma viagem que há muito tempo estava a fim de fazer. Queria conhecer, sozinho, algumas praias do Ceará. Assim, fiz um roteiro prevendo passar uma semana em Jericoacoara e por volta de quatro dias em Canoa Quebrada. Porém, em suma, eu teria folga de um mês para curtir o litoral cearense, com compromisso apenas de passar o natal em casa de parentes em Fortaleza e de voltar para Brasília em tempo de não perder dia de serviço já no fim de dezembro.



Para essa viagem, levei comigo um pandeiro, com o qual, naquele mesmo ano, havia aprendido alguns toques básicos. Chego em fortaleza, passeio por lá por dois dias e zarpo ansioso rumo a Jeri, pois já estava de saco, vistas e pulmões cheios de fumaça, edifícios e asfalto.



Quatro horas de estrada até Jijoca e, para minha alegria, nesse local temos que mudar de transporte, pois o baú não iria até Jeri devido a não existência de asfalto. Portanto, dali para frente era só estrada de areia. Que maravilha! Assim, embarcamos em uma Jardineira, uma espécie de caminhão com assentos em sua carroceria. Fone de ouvido apostos e em mais uma hora de viagem, admirando vilarejos, lagoas, praias e dunas, chegamos a Jericoacoara.



Em Jeri não tem caixa eletrônico e também não tem asfalto, somente ruas de areia. Busquei uma pousada com preço amigável e instalei os meus apetrechos. Já na primeira noite eu conheço o Ricardinho Matos tocando emepebê no Restaurante Sapão e depois de ouvi-lo, acompanhado de algumas cervas e caipis, encorajo-me e vou buscar o pandeiro. Assim, ele levou alguns sambas e eu pude acompanhá-lo acanhadamente. Depois disso, mais cervas, papo legal com o próprio Sapão, dono do restaurante, e o Ricardinho me adianta a rotina musical da vila.



Depois desse dia, pude acompanhá-lo também no Sky, restaurante que ficava na beira da praia, próximo à Duna do pôr-do-sol. Conheci também o Reno, o Silvino e o Limão, todos músicos de Jeri, sendo que o último era percussionista, ou melhor, ele se virava com o seu derbake, instrumento esse que, em algumas ocasiões, me foi cedido, principalmente quando o Limão não se agüentava mais de tantas brejas.



Conheci também o Perê, um cigano que vendia uns trampos de prata, com preço bastante elevado e também tocava pífano. A gente se reunia nos fins de tarde e, na praça central de vila, a gente tentava improvisar alguns sons. Mais não saia muita coisa não...



Não sei como, mas no pouco tempo naquele vilarejo, criei uma rotina andando de chinelo e bermuda, fazendo caminhadas até a famosa pedra furada de Jeri, acompanhando o Perê nos fins de tarde, depois tocando pandeiro sozinho no Serrote – morro de Jeri com uma vista maravilhosa – saindo com o Limão pelas noites e tomando todas, além de fazer vários acompanhamentos percussivos para o Ricardinho e o Reno nos bares de Jeri.




Na época ainda, havia na vila uma banda chamada Zero-vinte-um, que era de uma rapaziada do Rio que veio morar em Jeri e que levavam somente rock’n’roll do bom e do melhor. Houve até uma ocasião, gerenciada pelo doutor Limão, em que fomos convidados para a festa comemorativa da final do campeonato de Kite Surf que estava rolando na praia do Preá, ali próximo. A banda Zero-vinte-um iria tocar na ocasião. Ajudei nos preparativos, colocamos uma bateria montada na carroceria de uma caminhonete. Nem os pratos saiam devido à maresia. Motorista inexperiente nas dunas e vou eu de cara no bumbo!...rs..Mas, tudo é festa. De noite estava eu e o Limão tomando boêmias e caipis à vontade. O Limão ia acompanhar a 021 mais exagerou nas doses e não foi. Fui eu. E claro que estava afim.



Assim, os sete dias que havia estimado ficar em Jeri se tornaram 18 e, como tudo que é bom dura pouco, chegou a hora de seguir viagem. Meu destino agora era Canoa Quebrada, no outro extremo de Fortaleza.




Continua...






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