Verão
de 2004, na verdade, final de novembro daquele ano. Fiz uma viagem que há muito
tempo estava a fim de fazer. Queria conhecer, sozinho, algumas praias do Ceará.
Assim, fiz um roteiro prevendo passar uma semana em Jericoacoara e por volta de
quatro dias em Canoa Quebrada.
Porém , em suma, eu teria folga de um mês para curtir o
litoral cearense, com compromisso apenas de passar o natal em casa de parentes
em Fortaleza e de voltar para Brasília em tempo de não perder dia de serviço já
no fim de dezembro.
Para
essa viagem, levei comigo um pandeiro, com o qual, naquele mesmo ano, havia
aprendido alguns toques básicos. Chego em fortaleza, passeio por lá por dois
dias e zarpo ansioso rumo a Jeri, pois já estava de saco, vistas e pulmões
cheios de fumaça, edifícios e asfalto.
Quatro
horas de estrada até Jijoca e, para minha alegria, nesse local temos que mudar
de transporte, pois o baú não iria até Jeri devido a não existência de asfalto.
Portanto, dali para frente era só estrada de areia. Que maravilha! Assim,
embarcamos em uma
Jardineira , uma espécie de caminhão com assentos em sua
carroceria. Fone de ouvido apostos e em mais uma hora de viagem, admirando
vilarejos, lagoas, praias e dunas, chegamos a Jericoacoara.
Em
Jeri não tem caixa eletrônico e também não tem asfalto, somente ruas de areia.
Busquei uma pousada com preço amigável e instalei os meus apetrechos. Já na
primeira noite eu conheço o Ricardinho Matos tocando emepebê no Restaurante Sapão
e depois de ouvi-lo, acompanhado de algumas cervas e caipis, encorajo-me e vou
buscar o pandeiro. Assim, ele levou alguns sambas e eu pude acompanhá-lo
acanhadamente. Depois disso, mais cervas, papo legal com o próprio Sapão, dono
do restaurante, e o Ricardinho me adianta a rotina musical da vila.
Depois
desse dia, pude acompanhá-lo também no Sky, restaurante que ficava na beira da
praia, próximo à Duna do pôr-do-sol. Conheci também o Reno, o Silvino e o
Limão, todos músicos de Jeri, sendo que o último era percussionista, ou melhor,
ele se virava com o seu derbake, instrumento esse que, em algumas ocasiões, me
foi cedido, principalmente quando o Limão não se agüentava mais de tantas
brejas.
Conheci
também o Perê, um cigano que vendia uns trampos de prata, com preço bastante
elevado e também tocava pífano. A gente se reunia nos fins de tarde e, na praça
central de vila, a gente tentava improvisar alguns sons. Mais não saia muita
coisa não...
Não
sei como, mas no pouco tempo naquele vilarejo, criei uma rotina andando de
chinelo e bermuda, fazendo caminhadas até a famosa pedra furada de Jeri, acompanhando
o Perê nos fins de tarde, depois tocando pandeiro sozinho no Serrote – morro de
Jeri com uma vista maravilhosa – saindo com o Limão pelas noites e tomando
todas, além de fazer vários acompanhamentos percussivos para o Ricardinho e o
Reno nos bares de Jeri.
Na
época ainda, havia na vila uma banda chamada Zero-vinte-um, que era de uma
rapaziada do Rio que veio morar em Jeri e que levavam somente rock’n’roll do
bom e do melhor. Houve até uma ocasião, gerenciada pelo doutor Limão, em que
fomos convidados para a festa comemorativa da final do campeonato de Kite Surf
que estava rolando na praia do Preá, ali próximo. A banda Zero-vinte-um iria
tocar na ocasião. Ajudei nos preparativos, colocamos uma bateria montada na
carroceria de uma caminhonete. Nem os pratos saiam devido à maresia. Motorista
inexperiente nas dunas e vou eu de cara no bumbo!...rs..Mas, tudo é festa. De
noite estava eu e o Limão tomando boêmias e caipis à vontade. O Limão ia
acompanhar a 021 mais exagerou nas doses e não foi. Fui eu. E claro que estava
afim.
Assim,
os sete dias que havia estimado ficar em Jeri se tornaram 18 e, como tudo que é
bom dura pouco, chegou a hora de seguir viagem. Meu destino agora era Canoa
Quebrada, no outro extremo de Fortaleza.
Continua...
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