sábado, 9 de junho de 2012

Luiza e o primeiro beijo (Por Thaís Azenha)



Ninguém faz nada em uma quinta-feira. Nada além do cotidiano. Salvo raras exceções.
Mas tornar-me uma exceção não quer dizer que deixo de existir. Existo com ainda mais convicção de ser.

- Ligaste para mim hoje?

Pergunto assim com um ar desconfiado como quem suplica por razões mesmo que fúteis e banais após quatro chamadas não atendidas do dia anterior. E tenho vontade de me estrangular por ter deixado o celular descarregar, mesmo sabendo que não estar sempre disponível também é bom. Será que é mesmo? Pode até ser para alguém que não eu, imediatista cega.

- Liguei ontem, mas não atendeste. Era para convidar-te a ir em uma reunião de amigos, o que acha?

Esse seria o momento de pular do banco e deixar que a corda aperte meu pescoço de uma só vez, onde nem teria tempo de suspirar pelo último segundo. Mas se quisesse ir com ele precisaria estar viva ainda, mesmo com o coração saindo pela boca, batendo a velocidade da luz.

- Acho ótimo, onde, quando?

Ainda não sabia o que me esperava nesse "encontro" de amigos que não necessariamente seria um "encontro" com fins românticos. Mas eu o conhecia tanto que sentia a diferença em seu tom de voz.

- Ás 20h está bom pra você?

Então ás 20h seria a minha hora. Vou de encontro ao acaso então, e sei que posso ser esmagada. Mas é como Claricear tendo loucura sem ser doida.
Entregar-me-ei a essa insensatez que esperei por tanto tempo, e gostaria de afogar-me aos poucos nessa alegria, mas mergulho, novamente de cabeça.
Não sei ser diferente. Ou não seria eu mesma.

- Está sim. Estarei pronta.

Há meses estou esperando esse momento, mas pronta nunca estarei. Nem começamos nada e já menti.
E todo desajeitado me abre as portas do carro, e ganho um beijo suave no rosto:

- Senti saudades!

Venha com mais essa dose. Deixe que eu tome mais um pouco desse ópio de você.

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