terça-feira, 26 de junho de 2012

Festa do Fagner (Indicado Por Rubião)







Todo jogador de futebol é apaixonado pela bola e por uma boa pelada ou “baba”, como chamam na Bahia. Pelo menos aqui no Brasil. Mesmo quando estão de férias, poucos resistem a um convite para um encontro com os amigos, jogar uma bolinha e depois comer um churrasco. Algumas, então, não há como rejeitar. Foi o que aconteceu quando, certa vez, lá pelos longínquos anos oitenta, Raimundo Fagner resolveu fazer uma festa em Fortaleza para festejar a conquista de alguns discos de ouro que ele fizera por merecer. O evento deveria se realizar no Castelão – o maior estádio do Ceará – onde participaríamos de uma partida de futebol e ele receberia os seus prêmios. Raimundo convidou muitos amigos do meio artístico e do futebol. Estavam nessa Zico, Roberto Dinamite, Cláudio Adão, Reinaldo, Eder, Zé Ramalho, Fausto Nilo, Gonzaguinha e tantos outros que não me lembro mais.

O aquecimento para o jogo se deu na casa de Zé Ramalho e Amelinha – que nessa época estavam juntos. Eles moravam em uma linda residência no alto da Praia do Futuro com uma linda vista para o mar. Haviam preparado uma bela feijoada para receber todos os que iriam participar da festa. Lá pelas onze da manhã, o pessoal começou a chegar. Fomos recebidos com imensos sorrisos e muito carinho pelos anfitriões acompanhados por uma caipirinha ou um copo de cerveja bem gelada. Quando cheguei, o Fagner já estava por lá pilotando uma vitrola (que tempo bom!) com a fita de demonstração do seu mais novo disco, que deveria sair no início do ano seguinte. O homem parecia apaixonado pela nova música, pois ele não deixava ninguém dedilhar um violão e muito menos mudar o disco que tocava. Sem exagero, acho que nós tivemos que ouvir a mesma canção por umas três horas. Ainda bem que ela era muito bonita, se não uma pequena rebelião teria se instalado na mansão dos Ramalho.

O jogo de futebol estava marcado para se iniciar às quatro horas da tarde, mas já era quase isso e o almoço ainda não havia sido servido. Parecia que ninguém se lembrava da razão da nossa estada ali – também pudera, com a animação em que todos estavam eu já duvidava que a partida fosse acontecer.

Mas felizmente alguém com o que restou de consciência conseguiu carregar aquele povo todo para o estádio onde nos aguardavam cerca de 15 mil pessoas que tiveram a coragem de ir até ali acompanhar aquele jogo de final de ano. E o público, mesmo com todo o nosso atraso, estava tão eufórico que parecia que havia saído de uma noitada mais alegre que a nossa. Como nos vestiários o clima também continuava de festa, resolvi farrear de vez. Coloquei a camisa pelo avesso, um chapéu panamá na cabeça, entrei em campo junto da equipe adversária e, vejam só, calçado apenas com uma sandália dessas de tira. E fiquei assim o tempo todo. O jogo foi fantástico e algumas particularidades merecem ser citadas como, por exemplo, a verdadeira caçada de Eder ao goleiro adversário – um amigo cearense cujo apelido é Gordinho. Como o Gordinho usava brincos nas orelhas – algo raro naquele tempo – o maluco do Eder resolveu atazanar a vida dele e avisou que todo chute seu teria invariavelmente o objetivo de acertar um dos brincos. E foi o que fez com a colaboração da defesa adversária que a cada ameaça de chute por parte do Eder se retirava da frente só para ver o que aconteceria. Não foram poucas as vezes em que a bola explodiu no corpo do gordinho. O bicho saiu até tonto de tanta pancada.

Eu, do meu lado, joguei praticamente toda a partida de calcanhar. A cada toque que eu dava na bola a galera ia à loucura. Parecia uma catarse coletiva. Quando olhava para as arquibancadas, o que via era só alegria. Como foi gostoso poder proporcionar aqueles momentos de alegria para os que lá estavam. Ia fazendo aquela festa com o povão, quando o juiz – dos piores, com certeza – resolveu marcar um pênalti para o nosso time. Corri para a bola, agarrei-a e coloquei-a debaixo do braço. Aquela penalidade tinha que ser batida por mim. Coloquei a bola na marca de cal, esperei que todos saíssem da área e me posicionei para bater de costas; de calcanhar. Vocês não imaginam o furor com que o público reagiu àquele gesto – foi uma loucura. Demorei o máximo que pude enquanto a manifestação exterior aumentava cada vez mais e finalmente disparei o tiro. A bola saiu dos meus pés com tanta força que até me assustei e... explodiu contra a trave esquerda do Gordinho. Gente, que maravilha; nunca um pênalti perdido foi tão aplaudido. Só me restava gargalhar de felicidade.

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