Concordamos com a Lei Seca no Trânsito, pois
realmente quem ingere bebida alcoólica ou outra substância entorpecente
qualquer não deveria pegar no volante. Assim, temos a idéia de que a Lei Seca
seja um instrumento para inibir essa prática, ou seja, evitar que a pessoa
dirija sob efeito do álcool. No entanto, essa lei não tem como objetivo
diminuir o movimento de bares e restaurantes, ou de festas e shows que ocorram
na cidade e também não tem como objetivo interferir no arbítrio que as pessoas
possuem de decidir se vão ingerir ou não qualquer bebida alcoólica.
Dito isso, vamos a dois episódios ocorridos com
esse narrador:
Primeiro episódio: como moro em Taguatinga e
gostaria de prestigiar um evento musical que aconteceria no autódromo do Plano
Piloto no sábado a noite, optei por me hospedar no setor hoteleiro norte,
ficando assim mais próximo ao local do evento. Minha intenção era ir de táxi
para o local dos shows, podendo então curtir as apresentações apreciando
algumas cervejas, as quais eram vendidas pelos ambulantes do local. Desse modo,
como iria voltar de táxi, não teria problemas em ingerir alguma bebida alcoólica.
Assim, estava tudo bem até o momento da volta para o hotel, pois fiquei na
saída do evento esperando um táxi por quase 2 horas. Vejam só, um evento
musical de grande porte em uma área central de Brasília e não havia sequer um
táxi para quem quisesse sair do evento sem dirigir seu carro próprio.
Segundo episódio: tive que resolver umas questões
em um cartório localizado na 505 sul, próximo à avenida W3, por volta das 11
horas da manhã de uma segunda-feira. Terminada a empreitada no cartório, como
trabalho no setor de autarquias sul, optei por pegar um ônibus na W3. Cheguei
na parada por volta de meio-dia, mas o ônibus que aguardava somente foi passar por
perto das 13 horas. Desse modo, fiquei na parada de ônibus por quase uma hora
e, assim, cheguei atrasado ao trabalho.
Narrados esses episódio, voltamos a dizer que
concordamos com a Lei Seca no Trânsito, mas gostaríamos de ressaltar que, em
nosso entender, está faltando uma Política de Lei Seca no Trânsito, na qual
além das punições apresentadas na lei, também haja ações no sentido do
melhoramento do transporte público de modo que aqueles cidadãos que andem
conforme a Lei, também possam ter a liberdade de sair e de se divertir, além de
poder voltar para sua residência, a qualquer hora, sem passar por maiores
infortúnios do que aqueles que desrespeitam a Lei.
Nesse sentido, a única medida que o governo tem
adotado é o incentivo à campanha do “amigo da vez”. Essa idéia, em si, não é
má, no entanto, a adoção somente dela como solução do problema do álcool no
trânsito jamais seria eficaz. Primeiramente, devido ao seu requisito
indispensável que é a presença do amigo. Pessoalmente, então, a coisa fica mais
difícil ainda, pois, sinceramente, gosto de sair sozinho. Não que não tenha
amigos, esses eu os encontro pelos lugares onde ando, mas, sendo franco,
dispenso um “amigo chofer”. E ainda, quem bebe sabe a tortura que é você ver
seus amigos bebendo e se divertindo e você simplesmente assistindo sem poder
fazer aquilo que eles estão fazendo. Mas, tudo bem, o incentivo à pratica do
“amigo da vez” se viesse acompanhado por outras medidas talvez já poderíamos
assim estar se aproximando de um verdadeira política de lei seca.
Voltando agora aos episódios narrados
anteriormente, poderíamos extrair dos problemas ali apresentados, várias
medidas que amenizariam muito as deficiências de transporte visando colaborar
com aqueles cidadãos que queiram obedecer a Lei. Por exemplo, se houvesse redução nas tarifas de taxi,
no caso do primeiro episódio, talvez não haveria necessidade da hospedagem no
Plano, sendo que, com tal redução tarifária, eu poderia ter me deslocado de
Taguatinga para o local do show utilizando essa forma de transporte. No
entanto, nas condições atuais, eu pagaria um valor aproximado a 70 reais por
deslocamento, ou seja, a ida e a volta ficaria por cerca de 140 reais. Sendo
que no caso ilustrado, eu paguei uma diária no hotel no valor de 100 reais,
portanto, mais em conta do que o deslocamento de táxi.
Não caberia, nesse momento, porém, fazer comparação
financeira entre as formas de locomoção apresentadas no parágrafo anterior e uma
outra forma que seria o deslocamento direto para o evento de carro próprio e
fazendo uso de bebidas alcoólicas, pois nesse caso deveríamos incluir o risco
pessoal, além do financeiro. Portanto, não cabe aqui tal comparação, mas nos
sabemos que muitos preferem essa última opção e continuarão a adotá-la, caso
não haja mudança nos rumos da campanha álcool zero.
Ainda, tratando do mesmo episódio, no caso da falta
de agilidade no atendimento as chamadas, talvez o incentivo aos taxistas a implantarem plantões nas proximidades de festas
e shows que ocorram na cidade poderia ter diminuído muito o tempo de espera
que fomos submetidos na volta do evento narrado anteriormente.
No segundo episódio descrito, o leitor talvez deva
estar se perguntando qual seria o enfoque, pois, no caso ali relatado, não há
citação de qualquer bebida alcoólica. Porém, percebendo que em uma
segunda-feira, naquele horário descrito, o cidadão espera por uma hora na
parada para poder se deslocar para o seu trabalho, em uma área central do Plano
Piloto, fico imaginando como seria no fim de semana, caso esse mesmo cidadão
optasse por utilizar os serviços de um bar ou restaurante de sua preferência e
se deslocar de ônibus, só ou com a família. Será que a espera seria menor ou
maior? Posto que no fim de semana a tendência seja a redução da frota de ônibus
em circulação, fica, portanto, evidente a resposta a tal pergunta.
Desse modo, se
houvesse o incentivo estatal no sentido de se manter boa quantidade de ônibus
em circulação nos fins de semana, principalmente em locais de grande movimento
de bares e restaurante, ao nosso entender, seria também uma ótima medida
visando a eficiência da Lei.
Posto isso, podemos perceber que o enfoque atual da
campanha estatal da Lei Seca possui como foco o indivíduo que a infringe, ou seja,
aquele cidadão que bebe e pega no volante, utilizando como instrumento de
repressão a essa prática apenas a aplicação de diversas punições ou
penalidades. No entanto, existe a necessidade
de uma mudança de foco dessa campanha, privilegiando, desse modo, o cidadão que
tenta cumprir a Lei se deslocando de outras formas que não seja dirigindo um
veículo após ingerir qualquer bebida alcoólica. Assim, seria boa prática a
implementação de uma verdadeira política de álcool zero no trânsito, com as
medidas aqui sugeridas, entre outras, em complementação à vigência da Lei, que,
sem isso, realmente continuará sendo “seca”.
Bsb, 13 de abril de 2012.
Cláudio Lima da Silva
Totalmente excelente.
ResponderExcluirÓtimo texto, sem dúvida faltam políticas públicas em todos os setores, inclusive no transito. Não concordo com as pessoas que fazem um monte de besteiras com a desculpa de que "no Brasil nada funciona mesmo", mas quando passamos por situações parecidas da vontade de fazer a nossa própria lei. Boa tarde e um excelente final de semana.
ResponderExcluir